terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

RITA LEE REFESTANÇA, O PÉ FRIO DE GILBERTO GIL (MATÉRIA 1977)

RITA LEE REFESTANÇA O PÉ FRIO DE GILBERTO GIL
O baiano Gilberto Passos Gil Moreira, ao se formar em Admistração de Empresas pela Universidade da Bahia, em 1964, fez duas opções sérias em sua vida. Trocou Salvador por São Paulo e passou a se dedicar à música popular brasileira. O sucesso chegou rápido porém lhe custou alguns  dissabores. Desde o Tropicalismo suas posições artísticas e existenciais provocaram grandes debates. Por motivos políticos viveu algo tempo como exilado em Londres, quando reconheceu ter experimentado LSD  mas  negou ter criado dependência. Praticou macrobiótica durante cinco anos, abandonando-a “para não se tornar um fanático”. Em 75, iniciou com Refazenda  o que definiu ser ”uma volta  à simplicidade”. No ano seguinte participou do supergrupo Os doces Bárbaros, sendo preso em Florianópolis por posse de alguns cigarros de maconha. Seu julgamento teve repercussão nacional e, na época Gil declarou “não ter problemas de culpa”. Condenado a um ano de prisão, teve sua pena transformada em internamento em clinica especializada. Após o tratamento participou do Festival da Arte Negra da Nigéria, como convidado oficial do governo daquele país.  Na volta começa a enfatizar em seu trabalho os elementos afro. Nos últimos meses seu trabalho artístico foi colocado em segundo plano pela imprensa, passando-se a discutir suas posições ou omissões políticas. Em 11 de dezembro do ano passado , esteve detido algumas horas em Belém, acusado de ter dito que a Censura “não estava com nada”. Em junho deste ano, sofreu pressões dos universitários de Salvador  que o acusaram de conformista. Nesta ocasião Gil explicou: “Por não saber o que acontece nos bastidores políticos, não posso opinar se sou a favor ou contra o presidente Geisel”.
O JEITINHO BRASILEIRO NÃO FUNCIONOU
O show Refestança  interrompido aos 55 minutos em conseqüência da queda parcial do cenário, é, praticamente, o maior exemplo de como não utilizar o Maracanãzinho  para espetáculos musicais. Este ginásio é reconhecido como um dos espaços mais difíceis para uma distribuição equilibrada de som. No sábado fatídico, Refa-Frutti e Tutti-Vela juntos, somando um quase recorde de seis mil watts de som, padeceram o mal do “jeitinho brasileiro”, Foram obrigados a viabilizar um som, em meia hora, num estádio que exige, pelo menos, dois dias de teste. No entanto, os técnicos de som (brasileiros) que acompanha Gil e Lee não foram culpados. Tanto que nos dez minutos que precederam o esfarinhamento do cenário, o som alcançou o nível internacional quando Gil cantava Ovelha Negra. (É importante lembrar que na apresentação do conjunto inglês Genesis os gringos fizeram um som tecnicamente perfeito naquele mesmo local.) Quando a proposta do show, tudo correu bem. O objetivo é mostrar uma festa de dois artistas que, trabalhando com processos diferentes – (Gil improvisa, é músico de estrada e Rita Lee é artista que ensaia e reensaia  cada canção)- procuram apresentar  suas afinidades conceituais, comemorando os dez anos de aniversario de Domingo no Parque (Gilberto Gil/1967), quando pela primeira vez  tocaram juntos provando que a música brasileira admite o berimbau  e a mais sofisticada tecnologia, simultaneamente. (Alfredo Herkenhoff e Paulo Macedo)
A BARRA PESA MAIS RITA LEE AGÜENTA  
Apesar de ter nascido em São Paulo, há 29 anos , Rita Lee Jones sempre teve o rock entre as suas raízes. Filha de mãe italiana e pai americano (descendente de índios), aos 12 anos ia ouvir Bill Halley e Elvis Presley na casa das amigas, pois a mãe pretendia torná-la freira. Formou, com Arnaldo Baptista, o conjunto Os Mutantes, que se tornou conhecido ao acompanhar Gilberto Gil em Domingo no Parque, uma das músicas detonadoras do movimento tropicalista. Casou-se com Arnaldo, desquitando-se ao abandonar o conjunto, em 1972 “foi tudo ao mesmo tempo: saí do Mutantes, saí do Arnaldo, saí da minha família, saí de tudo. Achei que devia aprender mais, na música, e não conseguia viver dentro do sistema da família. “Sua carreira individual elevou-a rapinadamente à condição de primeira dama do rock brasileiro. Acompanhada pela banda Tutti-Frutti, Rita colocou diversas músicas nas paradas de sucesso: Mamãe Natureza, Ovelha Negra e Arrombou a Festa são as mais conhecidas. Sua carreira sofreria um sério contratempo, entretanto, no dia 24 de agosto do ano passado, quando a policia paulista encontrou alguns cigarros de maconha em sua casa. Rita grávida de três meses, alegou que eles deveriam pertencer a algum amigo, pois devido ao seu estado  renunciara ao uso de qualquer substância  que prejudicasse a saúde do filho, embora não negasse ter experimentando a droga anteriormente. Condenada a um ano de reclusão e ao pagamento de 50 salários mínimos de multa, passou 15 dias em cela comum, em companhia de mais 9 detentas.
Depois teve sua pena transformada em prisão domiciliar, e recebeu autorização judicial para voltar a se apresentar. Seu filho Roberto Lee, nasceu no dia 22 de março de 1977, pesando 2,990 gramas, de cesariana, realizada no hospital Albert Einstein, em são Paulo. O pai é Roberto Afonso de Carvalho, 24 anos, guitarrista e pianista, ex-acompanhante dos Secos & Molhados e de Ney Matogrosso. Ainda em janeiro deste ano , Rita desligou-se de sua empresária Mônica Lisboa, e pretendia montar com Roberto um esquema empresarial de autogestão. Sobre as acusações da critica conservadora que considera Rita Lee fora da realidade brasileira, mas eu quero apenas divertir o povo porque também existe a festa. Não é só se preocupar com seqüestros , essas coisas... Não tenho posição política, nuca tive. A minha é tocar pra criançada. Sou irresponsável ou melhor, só tenho responsabilidade de me mostrar. Gosto muito de criança porque criança não tem opinião formada, Graças a Deus!”

Em todas as fases da sua vida os problemas pintaram, mas Rita Lee faz questão de refazer a festa.


Reportagem de Paulo Macedo, Alfredo Herkenhoff e Paulo Simões
Fotos de Ricardo Belief, Marcos Vinicius e o globo.

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