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Ao lado, reprodução da capa do LP 'Entradas e Bandeiras', de Rita com o Tutti-Frutti
Por André Pelliccione, da Redação do Sindsprev/RJ
Deboche, irreverência e crítica à eterna caretice da vida cotidiana. Tudo isso, meu caro, acompanhado por músicos que notabilizaram uma das mais fantásticas e competentes bandas da história do rock nacional. Estou falando do Tutti-Frutti, que de 1973 a 1978 notabilizou-se por acompanhar a nossa (já eterna) Rita Lee.
O núcleo-base do que viria a ser o Tutti-Frutti começou em 1971, a partir da reunião de três excelentes músicos do bairro paulistano da Pompéia: o guitarrista Luís Sérgio Carlini, o baixista Lee Marcucci e o baterista Emilson Colantonio. Inicialmente tocando na noite com o nome de ‘Coqueiro Verde’, a banda logo mudou para ‘Lisergia’, influência do ‘desbunde’ de toda uma geração frente às experiências alucinógenas e projetos alternativos que marcaram os inesquecíveis anos 70.
Foi tocando na noite que o Tutti-Frutti despertou a atenção de Rita — na época recém-saída dos Mutantes, onde não encontrara mais espaço para seu rock debochado, desbocado e stoneano. O primeiro resultado desse raro encontro de talentos (e da fome de rock’n’roll) foi o LP ‘Atrás do Porto Tem Uma Cidade’, já com a presença de Lúcia Turnbull. O LP marcou definitivamente a história do rock com ‘Mamãe Natureza’, ‘Yo no creo pero’, ‘Tratos à Bola’ e ‘De pés no chão’, nas quais Rita é acompanhada em excelentes arranjos, com destaque para a guitarra de Carlini.
Você é ovelha negra da família
Foi em 1975, contudo, que o Tutti-Frutti gravou e produziu, com Rita, aquele que é considerado um dos melhores discos de sua carreira: Fruto Proibido, puxado pelo sucesso de ‘Ovelha Negra’, com letra meio-autobiográfica de nossa rainha do rock:
‘Levava uma vida sossegada
Gostava de sombra e água fresca,
Meu Deus quanto tempo eu passei
Sem saber?
Foi quando o meu pai me disse filha
Você é Ovelha Negra da família
Agora é hora de você assumir’
Considerado pela crítica especializada e amantes do gênero como um dos melhores discos do rock nacional, Fruto Proibido também brindou o público com outros inesquecíveis sucessos, como ‘Dançar pra Não Dançar’, ‘Agora Só Falta Você’, 'Pirataria' e ‘Luz Del Fuego’.
No disco seguinte (Entradas e Bandeiras), de 1976, destaque para ‘Corista de Rock’, ‘Lady Babel’, ‘Com a Boca no Mundo’, ‘Superstafa’, ‘Coisas da Vida’ e ‘Bruxa Amarela’, esta última de Raul Seixas. Gravado no Estúdio Eldorado, São Paulo, o disco mostrou a versatilidade de Carlini, com ótimos acompanhamentos e solos na slide guitar, craviola, gaita e até percussão. Na formação da banda, a bateria de Sergio Della Mônica, vocais de Rubens Nardo, o impagável baixo de Marcucci e teclados de Paulo Maurício. Com Entradas e Bandeiras, Carlini foi eleito o melhor guitarrista de 1976 pelo jornal Rolling Stone.
Rita Lee, contudo, não teria na época gostado de alguns dos arranjos de Entradas e Bandeiras, especialmente os teclados ao final de ‘Coisas da Vida’. O ano de 1976, aliás, não foi de boas recordações para nossa rainha do Rock, que seria presa em São Paulo por porte de drogas, resultado de ações policiais empreendidas pela Ditadura especialmente contra bandas e grupos de atitude marcadamente contestatória. Não é à toa que, na mesma época, uma ação policial também resultou na prisão de Gilberto Gil, em Santa Catarina, durante excursão dos ‘Doces Bárbaros’.
‘Com a Boca no Mundo’ bem sintetiza esse espírito roqueiro e contestador que permeou os anos 70 e a música de bandas como Tutti Frutti, Made in Brazil, Terço, Mutantes, Casas da Máquinas, A Bolha e Patrulha do Espaço.
‘Com a Boca no Mundo’ bem sintetiza esse espírito roqueiro e contestador que permeou os anos 70 e a música de bandas como Tutti Frutti, Made in Brazil, Terço, Mutantes, Casas da Máquinas, A Bolha e Patrulha do Espaço.
‘Uh! Quantas vezes, eles vão me perguntar
Se não faço nada a não ser cantar?
Uh! Quantas vezes, eles vão me responder
Que não há saída a não ser morrer
Isso não tem mais jeito
Foi tudo dito e feito
Agora não é tempo da gente se esconder
Tenho mais é que botar a boca no mundo
Como faz o tico-tico quando quer comer’
Rita Gil e Gilberto Lee
Com Gilberto Gil o Tutti Frutti e Rita gravariam, em 1977, o LP Refestança, ao vivo. Fazendo na capa o trocadilho ‘Rita Gil’ e ‘Gilberto Lee’, o disco registrou no palco a excelente química entre o baiano e os rapazes da Pompéia. Destaque para ‘É proibido fumar’, ‘Back in Bahia’ e ‘Giló’.
No ano seguinte, com ‘Babilônia’, Rita e o Tutti Frutti fariam aquele que seria seu último disco juntos, numa banda que já contava com a participação de seu futuro marido, Roberto de Carvalho, instrumentista de rara competência. Duas músicas de trabalho se destacariam nesse LP: ‘Miss Brasil 2000’ e ‘Jardins da Babilônia’. Outros hits, porém, também marcaram o disco, como ‘Agora é Moda’, ‘Disco Voador’, ‘O Futuro Me Absolve’ e ‘Que Loucura’, esta última com boa instrumentação de órgão hammond, uma das marcas do Tutti-Frutti.
Achando-se cada vez mais secundarizado na banda e disposto a seguir seus próprios caminhos, em 1979 Luis Sergio Carlini (dono da marca ‘Tutti-Frutti’) decide seguir carreira com seu grupo, mas sem Rita Lee. Nossa rainha do rock, por sua vez, também vai em carreira solo, agora com Roberto de Carvalho nas guitarras e arranjos. A nova ‘roupagem musical’ de Rita, contudo, foi marcada pela concessão a um estilo ‘comercial e dançante’ que nada mais tinha a ver com seu trabalho anterior no Tutti.
No ano seguinte, com ‘Babilônia’, Rita e o Tutti Frutti fariam aquele que seria seu último disco juntos, numa banda que já contava com a participação de seu futuro marido, Roberto de Carvalho, instrumentista de rara competência. Duas músicas de trabalho se destacariam nesse LP: ‘Miss Brasil 2000’ e ‘Jardins da Babilônia’. Outros hits, porém, também marcaram o disco, como ‘Agora é Moda’, ‘Disco Voador’, ‘O Futuro Me Absolve’ e ‘Que Loucura’, esta última com boa instrumentação de órgão hammond, uma das marcas do Tutti-Frutti.
Achando-se cada vez mais secundarizado na banda e disposto a seguir seus próprios caminhos, em 1979 Luis Sergio Carlini (dono da marca ‘Tutti-Frutti’) decide seguir carreira com seu grupo, mas sem Rita Lee. Nossa rainha do rock, por sua vez, também vai em carreira solo, agora com Roberto de Carvalho nas guitarras e arranjos. A nova ‘roupagem musical’ de Rita, contudo, foi marcada pela concessão a um estilo ‘comercial e dançante’ que nada mais tinha a ver com seu trabalho anterior no Tutti.
O fim de uma era
Já a tentativa de Carlini e seu grupo de continuarem ‘on the road’, firmes em seu rock’n’roll debochado e contestador, resistiu pouco mais de três anos. O primeiro fruto foi o compacto simples de 1978, com ‘Você’ e ‘Oh Suzete’, culminando no LP ‘Você Sabe Qual o Melhor Remédio’, hoje disco raro e clássico entre colecionadores do rock. Com bons arranjos, o LP teve destaque para ‘Classe Média’ e ‘Rock Patroa’.
Em 1981 o Tutti-Frutti encerrou definitivamente suas atividades. No início da década de 80, os tempos já eram outros e não havia mais lugar para seu rock stoneano, meio hard, debochado e sem concessões ao staff comercial imposto pelas grandes gravadores e as então nascentes rádios FMs. Essa tendência, inclusive, seria confirmada, nos anos seguintes, pelo padrão totalmente diferenciado das novas bandas de rock que surgiriam ao longo daquela década, como Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Legião Urbana e Kid Abelha. Era um outro rock, feito 'pra tocar no rádio, estourar em vendas e no retorno comercial', nada mais tendo em comum com a ‘atitude roqueira’ e ‘irreverente’ que marcou os anos 70. E que não mais voltará.
A quem interessar possa, os discos de Rita Lee e Tutti-Frutti foram reeditados em CD pela EMI. Vale a pena conferir.
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