TODA família, por mais austera, tem sempre a sua ovelha negra. Rita Lee é uma delas, e aceita com tranqüilidade a classificação. Ri cuti e até se aprovita disso. No inicio, quando ainda estava no colégio e tocava com os colegas Arnaldo e Sérgio, seus pais tentaram proibir que a menininha sardente enfeitiçasse pela perigosa vida de artista, pois acreditavam que isso prejudicaria os seus estudos. A briga feia sobreveio na época que os três companheiros de escola resolveram forma um grupo Os Mutantes e ingressar no profissionalismo. Rita lee então teve que fugir de casa. Os conflitos surgidos naquele período, entre ela e sua família, serviram agora para que compusesse A Ovelha Negra.
É assim que, curtindo musicalmente seus problemas pessoais, a cantora chega novamente as paradas de sucesso. “Meu pai é descendente de índios americanos; minha mãe é de uma tradicional família italiana. Todos os dois são terrivelmente conservadores. Até hoje, não aceitam de bom grado a minha carreira. Mas não houve jeito. Quando perceberam, eu já era profissional e começava a agitar os palcos brasileiros. O fato, como se diz, estava consumado. Eu não reclamo nada. A eles, só peço carinho. E isso os dois nunca me negaram. Sei que me amam; é o que importa. Não moro com eles, mas os vejo com freqüência.”
O tempo passou. Rita Lee mudou tanto que acabou deixando Os Mutantes,há três anos. E fundou sua própria banda de rock, a Tutti Frutti, com metas simples e realistas: um disco e um espetáculo por ano. “Desta vez, estreamos no Rio o show Fruto Proibido, que apresenta as músicas de nosso novo long- play. Ficamos no Teatro João Caetano apenas quatro dias. A casa sempre lotada, tivemos de fazer uma sessão extra: uma vesperal no domingo. Houve até venda em câmbio-negro: a garotada curtiu mais do que o público da sessão noturna.”
O Fruto Proibido foi também servido aos paulistas, no Teatro Bandeirante. Depois, apresentações em todas as capitais do país. “Somos, ao todo, vinte cinco pessoas. Sete se apresentam tocando, cantando e dançando comigo. Os outros são técnicos: de som, iluminação, cenografia, etc. Por isso só podemos nos apresentar em grandes palcos e nosso showsempre parece uma festa incrível.”
Uma repressão sexual
Rita Lee compõe, canta, dança, toca flauta e violão. A proposição básica de seu grupo é levar música, alegria, luz e muita cor para o público, mas suas letras costumam trasmitir uma mensagem social ecológica. “O forte de nossa platéia são os adolecentes, a turma do ginásio e do colegial. Mas o primário e o Mobral também nos curtem demais... Às vezes, porém, a gente se engana. Há algum tempo, fomos fazer um concerto em Bauru, como sempre sonhado com uma platéia enorme, colorida, alegre, solta. Encontramos muita gente do ginásio, mas o público era quase exclusimante formado por homens, com algumas raríssimas mocinhas, espalhadas aqui e ali. Um verdadeiro grilo, um nível coletivo de repressão sexual absolutamente fantástico” – diz a cantora, e sua empresária, Monica Lisboa, logo completa o comentário: “Os homens olhavam para Rita de uma forma incrível. Aliáis, da mema forma com que olhavam as poucas mulheres que hávia na platéia. Pareciam uma reedição da época do teatro de revista, tranportada para a chamada geração Aquarius.”
Quando não está viajando, Rita Lee mora em São Paulo. Sua casa vive cheia de amigos e, sobretudo, de bichos. “Gosto muito de animais. Há apenas uma espécie que odeio: a barata. O resto é uma maravilha. Adoro estudar, brincar e cuidar de bichos.”
Ela já criou até ratinhos brancos, mas sua maior curtição é o casal de jaguatiricas: uma fêmea que cria há seis anos e um macho de um ano. “Quero fazer uma criação de jaguatiricas. Esse bichinho está em processo de extinção e tenho o propósito de fazer o possível para salvá-lo. Mas com o casal que tenho, não dá pé... O macho achou que a fêmea é muito velha. Agora vou arranjar uma companheira mas nova pra ele.”
Rita Lee está sempre com as jaguatiricas. Até quando viaja, fez questão de levá-las. Outro dia viajando de avião, ouviu uma inusitada proposta. Uma companheira de vôo perguntou-lhe, após elogiar a beleza do animal: “Você não me da esta oncinha? Eu queria tanto mandar fazer um casaco de pele para o meu boneco...
“ah, é? – respondeu a cantora. – Pois eu quero justamente o contrario: a senhora me dá seu boneco, eu faço um casaco com a pele dele e dou para minha oncinha vestir...” Assim é Rita Lee. Sempre rápida no gatilho; ferina e sarcástica como a letra de suas músicas. Em uma delas , Mãe Natureza, ela diz: Não sei / Se eu estou pirando / Ou se as coisas estão melhorando. / não sei / Se eu vou ter algum dinheiro / Ou só vou cantar no chuveiro...
É justamente o que ela pensa. Quer cantar, mesmo que seja só no chuveiro. O resto é folclore. Ou melhor, são atitudes como as de uma dessas ovelhas negras que a gente encontra por ai...
Reportagem de Ilvaneri Penteado
Fotos de Manchete Press
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